domingo, 25 de fevereiro de 2024
Apresentação Geral
Krishna, Vishnu ou Narayana
Quando menciono a
possibilidade de salvar elementos da religiosidade Hindu, me refiro a
linguagens da experiência religiosa profunda. Dentre eles, esse artigo especificamente
aborda uma das maneiras do Supremo Senhor se apresentar para
Seus devotos. Ele assim o faz como uma Pessoa, o absoluto criador, preservador
e aniquilador das regiões cósmicas e universais.
Tal Pessoa Suprema nos ensina que, por
sua ação, os mundos são estabelecidos e sustentados, e continuamente transformados
dentro do processo evolutivo que contém toda Ordem. Seus ensinamentos alcançam
a percepção humana através das escrituras, do(a) mestre(a) espiritual e/ou
diretamente por iluminação transcendental.
Mas, Krishna, Vishnu ou Narayana está
além da compreensão humana meramente racional, porque é o ilimitado, que não
tem um começo nem um fim. No entanto, Ele contém em si o começo e o fim de tudo
o que é, do que existe e que está por existir.
Sendo o Senhor de todas as
manifestações da existência, Ele pode se manifestar na forma que desejar se
manifestar. Por esse motivo, existem tantas religiões, de modo que o pensamento
sectário e desrespeitoso para com a crença do próximo é fruto unicamente da
intolerância religiosa e do preconceito. Ideias preconceituosas servem a
interesses próprios, sendo mais facilmente assimiladas, de maneira acrítica e
passiva, sem refutação por argumentos racionais, pelos favoravelmente
predispostos[i].
Em detrimento de tais predisposições
humanas aos sectarismo e ao preconceito religioso, a refulgência de Krishna (Brahman)
o manifesta, sem fornecer livre acesso à Sua Pessoa Suprema (Bhagavan),
a qual contém todas as opulências. Além do que, todas as almas viventes o
contêm em seus corações (Paramatma) e, portanto, podem encontrá-lo
dentro de si mesmas. Para vivenciar a experiência com Bhagavan é preciso
alcançar a realização filosófica dEle enquanto Pessoa, a partir de quem emana o
Brahman, que está em tudo.
Reconhece-se que esse encontro com
Deus conduz a alma à iluminação (samadhi) e à liberdade dos ciclos de
nascimentos e mortes (moksha). Aquele que, mesmo ainda permanecendo
atrelado a um corpo físico, re-encontra com Krishna - a Pessoa Suprema -, e com
Ele estabelece um convívio íntimo (bhakti rasa), está situado em alinhamento
perfeito com o Corpo Divino (siddhadeha).
Tal intimidade com Deus existe em um
estágio avançado de consciência espiritual, o qual preenche a vida de Amor Puro
pelo Divino Senhor (prema). Todas essas compreensões são filosóficas,
podendo ser obtidas a partir do convívio com alguém que as vivenciou
filosoficamente e/ou diretamente por autorrealização, sendo o segundo processo
muito raro na época atual, quando a sociedade se encontra em um estado
profundamente materialista e positivista[ii],[iii].
[i]
SOUZA, G. M.; FICAGNA, L. R. D. Do preconceito à intolerância religiosa. Revista
EDUC – Faculdade de Dique de Caxias, v. 3, n. 2, p. 54-74, 2016.
[ii]
Trata-se de um estado de acumulação de capital, pautado pelo materialismo
pragmático, o qual se desenvolveu sob forte influência de René Descartes
(1596-1650) e Augusto Comte (1798-1857). Segundo a lógica apresentada por
Moraes-Júnior, Christ e Celanti (s/d), para Descartes procedimentos de indução
e dedução científicas substituíram a religião na explicação do mundo, a partir
do que, as verdades das coisas se tornam tão completas e gerais, a ponto de não
ficar nada a dizer. Em complemento a essas ideias, Comte defende a tese da
evolução do ser humano em três estágios, os dois primeiros teriam sido o
Teológico e o Metafísico, provisórios e preparatórios para o terceiro estágio,
o Positivista. Ele coloca os estágios iniciais como sendo, respectivamente, de
busca pelo “sobrenatural” e de preocupação com “questões insolúveis e
desnecessárias”, como momentos iniciais da consciência humana, que atingiria um
estágio definitivo – o Positivo. Em tal estágio, “a razão emancipada da
imaginação não se preocupa mais com as pesquisas absolutas e metafísicas, mas
com observação, única base possível dos conhecimentos realmente acessíveis,
criteriosamente adaptados às nossas necessidades efetivas, segundo Comte”
(MORAES-JUNIOR; CHRIST; CELANTI, s/d, p. 9). Portanto, são tais pensamentos
fundantes do capitalismo materialista em que vivemos atualmente, quando muitos
tendem a desmerecer o conhecimento sensível e espiritual da existência.
[iii]
MORAES-JUNIOR, L. R.; CHRIST, F. M.; CELANTI, R. E. A globalização descartável:
as principais noções que fundamentam a racionalidade do viver na Era do
Capital. [s/d]. Disponível em: http://www.ienomat.com.br/revistas/pedagogia/journals/1/articles/178/public/178-570-1-PB.pdf.
Acessado em: 19 dez 2022.
domingo, 20 de fevereiro de 2022
Transitando entre Svakiya e Parakiya
Talvez curiosamente para alguns, vivo mādhurya em diferentes
bhāvas. O Senhor (Krishna) explica, em Rasa-tattva (2014):
“Em svakīya há autoentrega e Amor, profundo e sincero, da
contraparte que Me serve, enquanto a sirvo através do que reciproco na forma do
que mutuamente nos fazemos experimentar. É um evento que se faz para
diferenciar do que é parakīya para quem experimenta a svakīya, segundo outro
ângulo do experimentar. Afinal, somos as mesmas pessoas, compenetradas em doar-se
reciprocamente, para, através de diferentes maneiras, tocarem-se. Traduzimos a
Nós mesmos e o que resulta das nossas múltiplas interações conjugais ao mundo.
Esta tradução irá refletir o que é amar e dar-se um ao outro por meio da
experiência conjugal”.
Esta condição
consiste na natureza da Consorte do Supremo Controlador. O que tenho a dizer é
que em Śrī Rādhe existe tudo o que se possa perceber no mundo de madhura- bhāva,
no qual Mukunda gosta de suas līlās experimentar. Tanto faz, se em svakīya ou parakīya,
a alma eterna daquela que ao Senhor oferece o prazer transcendental de
amorosamente com a expressão feminina de si mesmo relacionar-se (Rādhikā) sempre
estará.
Quando estou com Ele, meu desejo é o de transferir-me para o
lado onde Ele está. Então, eu teria de sair de onde este meu corpo físico ainda
precisa permanecer. Há forte intenção de com meu Senhor unir-me de um jeito
ainda mais profundo do que já tive a oportunidade de até agora provar, embora o
que Śrī Kṛṣṇa me doa é a sat-cit-ānanda, que em prema-bhakti pura está.
A união que, às vezes, pareço desejar me fundiria à Fonte
que me contém. Mas, de modo algum pretendo destituir-me da oportunidade de com
Ele relacionar-me. Enfim, no aprofundamento ainda maior desta relação, não vejo
mais diferença entre o aqui e o que está lá. Nesta condição, meu mundo se torna
completamente transcendental.
”Tudo isso é por
demais complexo para alguém além de nós mesmos poder realizar. O Poder do Amor
Conjugal, que existe entre ambos, só pode ser medido e avaliado partindo de
nossas próprias percepções. Ninguém mais será capaz de compreender com precisão
e de comentar o que entendeu com o detalhamento que podemos dar ao que
experimentamos. Queremos dar significado
ao que nos faz desta maneira detalharmo-nos (Rasa-tattva, 2014)”.
Trecho do livro Madhurya, a Rasa da Doçura, de Shri Krishna
Madhurya (2015).
sábado, 15 de janeiro de 2022
Radha Krishna – o Sol da União entre Chamas Gêmeas
Esse livro faz parte de uma coleção de obras que revelam uma maneira de se relacionar com a Pessoa de Deus (Krishna). As chamas gêmeas são retratadas segundo uma compreensão divina, portanto. Elas são descritas como os dois polos de uma mesma consciência, os quais se buscam através de experiências complementares que se desenrolam ao longo de muitas vidas. O achado definitivo a que o livro se refere engloba os dois aspectos do amor – o amor romântico (eros) e o amor divino (ágape).
A união destes dois tipos de amor existe no achado que conduziu a autora do livro a estabelecer-se no conhecimento sagrado que envolve o passatempo de Radha Krishna. Tal passatempo faz se revelar para aquele(a) que se desprendeu das incompreensões que a linearidade da existência promove. Sendo assim, o Sol da União entre as Chamas Gêmeas está no coração que se ilumina através de um encontro profundo com sua contraparte complementar.
A autora do livro descreve
o que descobriu ao adentrar no sol da união de Radha Krishna, onde experimenta
do amor mais puro e perfeito, o qual é o arquétipo original de onde as chamas
gêmeas se originam.
Mais alguns detalhes em:
Para leitura grátis, cliqueaqui.
domingo, 28 de novembro de 2021
Rasa Tattva e a Relação Íntima com Krishna
O sthayibhava é a
primeira coisa que começa a surgir, às vezes muito leve e sutil, quando,
iluminado por rasa tattva, você volta a interagir com Krishna na eterna
morada. Ele surge como um sentimento e um humor de apego recíprocos, que é bem
específico à sua relação eterna com Deus. Quando alguém volta a ter acesso a
Ele significa que esta pessoa retomou o sthayibhava característico à sua
relação.
Voltar a se relacionar com o
Senhor permite que o apego a Deus se revele, o qual é chamado rati. Rati
é o apego em si, de modo que qualquer apego pode ser assim denominado. Mas, se o
apego é por Krishna (ou pela Pessoa de Deus, em alguma de Suas formas), dentro
de uma relação transcendental com Ele, este apego expressa-se em sthayibhava.
Rati aparece, esse apego se revela
e vem demonstrando sentimentos que realmente você tem. Tais sentimentos são expressão
de uma reciprocidade com Krishna, exatamente porque é Ele que lhe faz relembrar
dessa relação. É Ele que faz você relembrar, que toma você de volta. Mas,
trata-se de um processo recíproco, pois, devido ao seu esforço em buscar pelo
Senhor, você retoma o acesso a Ele.
Entenda-se, portanto, que é
Ele que lhe dá o acesso. Na verdade, este acesso é uma expressão da
reciprocidade da alma com Deus, que é eterna, e que está se manifestando
através de um novo contato que a pessoa está fazendo com Ele.
O novo contato revela rati,
apego pelo Senhor. Mas, o apego que você já tem, quando você já sabe quem você
é ao lado de Krishna, irá expressar o sthayibhava, que é específico a
cada relação com Ele.
Para ler o texto na íntegra, clique aqui.
sábado, 16 de outubro de 2021
Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus
Bhakti-Rasa parte do conceito de serviço devocional (bhakti) para, então, conduzir a mente a pensar na profundidade da experiência da relação íntima transcendental da alma com Deus (Krishna). Mas, a obra vai além, propondo a transposição das barreiras impostas pela institucionalização das religiões ao descrever o amor às duas formas de Deus – Krishna e Shiva. Ou seja, não se trata de uma obra Vaishnava, mas também é Vaishnava. Não é apenas isso, no entanto, sendo também Shaiva.
A devoção a Shankaranarayana aparece nas seções que descrevem as lilas (passatempos transcendentais), expondo “o que, por meio da intimidade conjugal, Radhika e Shri Krishna demonstram ser relevante para, através deste relato, ser revelado para a alma que está buscando por liberdade”. Ademais, elas (as lilas) “também contam o que Ishana e Isha[i] desejam expressar dentro de uma obra assim”.
O livro foi escrito ao longo de uma experiência que envolveu imersões extáticas profundas e contínuas com Krishna (Shiva). Além do que, ele foi sendo trabalhado sob influência da permanência de aproximadamente três anos na Índia, quando foram realizadas peregrinações a diversos lugares sagrados, estudos das escrituras do Hinduísmo e das principais linhas de devoção Vaishnavas e Shaivas, bem como se contatou com gurus de linhas de devoção fidedignas e diversificadas.
A obra, portanto, expressa um caminho (um yoga) que conduz à iluminação através do achado de uma luz interior que existe para sempre dentro do coração de cada um. Tal caminho é constituído de muita renúncia às propensões materialistas da vida comum. Descreve-se a experiência da renúncia se fazendo, quatro estágios de renúncia, além de outras considerações que esclarecem melhor como é a vida de um verdadeiro renunciante.
As três seções que explicam aspectos das emoções de quem, ao alcançar à meta de tal caminho, participa dos passatempos eternos se subdivide em: a) manifestações do romance de Radha Krishna – lila de Banke Bihari, Radha Ramana, noites de Vrindavana, dança da rasa, vamsi vata, Shri Shri Radha Shyamasundara e o escuro de Varsana; b) a meditação profunda de Srimati Radharani, a partir da qual a autora do livro constitui-se em cena; c) o casamento de Shiva Parvati, expressando emoções de bhava da Shakti divina neste seu outro humor.
O livro serve bem para aqueles que
gostam de coisas novas e os que aceitam que o mundo está sendo constantemente
recriado. Não servirá, no entanto, para a mente dogmática e sectária dos que
acreditam que somente sua própria religião conduz à Verdade Eterna. Enfim,
trata-se de uma obra que não pretende aprisionar, mas libertar o coração para
que ele possa seguir o rumo do seu mais profundo e sincero amor – o amor que
reciprocamos com a Pessoa Suprema (Krishna Shiva).
Mais textos obtidos do livro:
Caminho da Flor de Lótus (Kamala ou
Padma Yoga)
https://jardinsdekrishna.com/2020/01/19/caminho-da-flor-de-lotus-kamala-ou-padma-yoga/
segunda-feira, 11 de outubro de 2021
O Amor Conjugal em Essência
O amor é um sentimento mais
abrangente do que o evento do romance. Ele é o que se sente por outra entidade,
podendo haver reciprocidade ou não. Este outro alguém nem sempre é humano,
porém, quando o sentimento amoroso envolve romance, pressupõe-se haver
envolvimento entre seres de uma mesma espécie. (...).
David Naugle (s/d) menciona três tributários que acredita que influenciem a ideia de amor da
sociedade ocidental. Estes tributários são: a doutrina de Platão de eros,
a obra Symposium do mesmo autor e o conceito bíblico de agape.
O amor platônico é descrito, então, como apreciação da essência do belo e do bom por determinado observador, o qual, perante a visão dela e através dela contempla tal permanente e imortal essência.
Ao contemplá-la, a vida valerá
a pena ser vivida e o ser humano terá se tornado imortal. Além do que, é ele um
elo que pode ligar o ser humano a Deus e Deus ao ser humano, por traduzir
elementos de um para o outro. Ou seja, o filósofo percebe que o arquétipo do
amor apaixonado (ou romântico) existe no plano divino, que transcende ao mundo
das pessoas mortais comuns. (...).
Exatamente por ser este amor
voltado a um Deus que é Pessoa, torna-se possível fazer uma aproximação das
duas categorias de amor aqui focalizadas. O romance (amor romântico ou eros), que se volta à essência do belo
e/ou do bom, segundo a percepção de quem ama; e o amor propriamente dito (amor
divino ou agape), direcionado à
Pessoa de Deus.
Tal percepção vê Deus como uma
Pessoa Suprema, que é a Fonte de todas as outras pessoas e as contém, bem como
se relaciona com todas elas, de alguma forma. Mas, em um mundo em que o
materialismo predomina, poucos conseguem entender como tal relacionamento
acontece.
Ocorre que, sendo Ele uma
Pessoa, esta Pessoa ama e, ao mesmo tempo, se relaciona romanticamente com
algumas outras pessoas[i].
Então, tem-se amor (agape) e romance (eros) interligados em um único evento, o qual é eterno e perfeito.
Na verdade, quando entre seres humanos existe amor e romance juntos, tem-se uma
manifestação do que originalmente existe na Consciência Absoluta de Deus.
Este tipo de amor divino é o
arquétipo de um sentimento que une a alma ao seu Deus e a Deus para com tudo o
que Lhe pertence, sendo um sentimento bastante necessário no mundo. Ele é
necessário pois, além de inspirar o convívio harmonioso entre homens e
mulheres, também causa o respeito para com as demais espécies.
Para mais detalhes, clique aqui.
Apresentação Geral
Madhurya é a vida se expressando como fluência amorosa, doce e linda. ...
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Quando menciono a possibilidade de salvar elementos da religiosidade Hindu, me refiro a linguagens da experiência religiosa profunda. Dent...
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Uninterrupted Conscious Service in Eternal Lila In desperation I search for a certain state of consciousness, which is much more than...
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