Figura 1 - Templo da Shri Sampradaya, Vrindavana, Uttar Pradesh
Sumário do Livro Madhurya, a Rasa da Doçura
Além dos passatempos que se tornaram conhecidos através do aparecimento direto de Shri Krishna no planeta, existem alguns eventos raros de experiências conjugais com o Senhor enquanto Ele não está aqui diretamente. Um desses eventos é o aparecimento de Shri Andal, que é reconhecida como consorte de Shri Hari, mais especificamente na conformação de Bhu Devi.
Ela era a filha adotiva de Periyaalvaar, um devoto brahmana e um dos alwar (poetas e santos imersos em Deus) da Shri Sampradaya, que a encontrou no jardim do templo Vadapathrasayee, em Srivilliputtur, Tamil Nadu, Índia. Foi-lhe dado o nome de Godha e foi criada ouvindo as lilas de Krishna.
A sua identidade divina veio a ser reconhecida quando Periyaalvaar descobriu que Andal experimentava as guirlandas antes de as oferecer à Divindade e, ao proibi-la de continuar a fabricá-las, Periyaalvaar foi avisado pela divindade Vadapatrasayee para Lhe oferecer apenas as guirlandas de flores usadas antes por Godha.
O nome de Andal “aquela que controla” surgiu deste passatempo e, a partir desse passatempo, Shri Andal decidiu que casaria apenas com Krishna. Com isto em mente, seguiu as Gopis e manteve-se em jejum no mês de Margashirsha, durante 30 dias; e compôs um verso por dia do que é coletivamente conhecido como Tiruppaavai.
Na última noite após ter completado o processo, Periyaalvaar teve um sonho em que Shri Ranganatha lhe pedia para levar Andal vestida de noiva para Srirangam. Ao entrar no altar do Templo, Andal, maravilhada, tocou nos pés da divindade e desapareceu.
Shri Andal é uma encarnação parcial (amshavataaram) de Shri Devi (Mahalakshmi/Radha/Rukmini/Sita). Esta vinda de Shri Devi em forma humana (como Bhu devi ou Andal) mostra que a jiva (alma), ao nascer num corpo humano, deve ter como objetivo a realização de Paramaatma. Para isso, a pessoa tem que dedicar pensamentos, palavras e atos ao Senhor, através dos quais alcança uma relação íntima transcendental com Deus (rasa), que, quando conscientemente experimentada através do acesso ao Siddha deha, revela a Consciência Absoluta para a pessoa humana.
Andal, nos seus poemas (Tiruppaavai e Naacchiyaar Tirumozhi), mostra um estado de parama ou para bhakti que provoca um desejo intenso de estar sempre com o Senhor. Aqueles que experimentam este desejo perdem o interesse pela vida exterior, se não houver alguma forma de unidade com Ele no que se faz externamente.
Pode-se ver que Shri é Lakshmi, Radha, Rukmini, Sita, ou seja, a principal expressão da essência da consorte de Krishna. Bhu é uma projeção de Shri para fins específicos, tal como Bhumi Devi, Satyabhama, Padmavathi e Andal. Estas expressões da mesma consciência, Shri Radhe, no estado de atração conjugal por Krishna, podem ser vistas como diferentes formas de ser. O mais extenso destes níveis é Radha (Shri Devi/Mahalakshmi/Rukmini/Sita), que contém outros dois níveis (Bhu Devi e Nila Devi). Bhu Devi contém expressões de Nila Devi em si mesma, mas não as manifestações de Shri Devi, que, no entanto, a contém. Nila (ou Nappinnai) é uma identidade (um arquétipo) multiplicada para desenhar o lila do Senhor, aparecendo em formas adicionais como expansões de Shri - como numerosas gopis e esposas de Shri Krishna.
Nila Devi é um arquétipo para numerosas encarnações que existem como partes ou expansões de Shri Devi. Há interações entre elas e formam um todo completo, que tem um significado superior. As teias amorosas e as ondas de propagação de Madhurya, que contêm lilas de Shri Krishna, incluem as gopis, as rainhas e as outras manifestações do ternário (Shri, Bhu, Nila), que é a consciência de Radha.
Perguntas/Respostas
Diálogo Entre V d e Guru Ma Shri
1. Quando os três níveis de expressões de Shri Radhe (Shri, Bhu e Nila) são mencionados, dá-se a impressão de hierarquia, na qual elas compartilham o amor com o Senhor. Apesar da unidade que se diz haver para aqueles que alcançam o mundo transcendental amoroso do Senhor, será que o Senhor compartilha realmente mais ou menos amor com um ou mais de Seus associados pessoais nesse mundo transcendental amoroso?
Não se trata de uma hierarquia exatamente, mas de uma gradação de abrangência da consciência na Deusa Suprema. Shri é Mahalakshmi, em unidade com Durga e Sarasvati, na Tridevi. Ela é a própria Deusa Suprema, sendo Radha, Rukmini e Sita humores dEla mesma. Mas Bhu é uma avatara parcial de Shri, portanto não tem a mesma abrangência de consciência no todo da criação-sustentação-destruição que Shri Devi tem. Nila é ainda mais parcial do que Bhu. Sendo assim, a unidade para Bhu e Nila com Radha acontece em episódios, enquanto para Lakshmi (Shri Devi) é eterna, por se tratar da mesma Deusa Suprema. No mundo transcendental todas as consortes estão satisfeitas com sua maneira de ser e de reciprocar amor com o Senhor, exatamente por causa de tais episódios de vivência da unidade com Shri Devi. Ao mesmo tempo, há sim experiências de ciúmes, de sentimentos de separação e de lamentação, em qualquer uma das formas das consortes de Krishna, o que se pode perceber nas lilas. As experiências são extáticas, no entanto. Sendo plenas de sat-cit-ananda, não causam o mesmo tipo de sofrimento da linearidade.
2. Que expressão exatamente não está presente na manifestação de Bhu Devi e só está presente em Shri Devi e o que é que não está presente em Nila Devi (que é o arquétipo das outras consortes do Senhor) que está presente em Bhu Devi e Shri Devi?
Bhu Devi é uma manifestação parcial de Shri Devi, sendo a Divindade que preside a Terra. Shri Devi por sua vez é a própria Prakriti, a Natureza, a Adi-Shakti. Ela é Durga, enquanto Bhu Devi é Ganga. Ela é Sarasvati, enquanto Bhu Devi é Gayatri. Shri Devi é a consciência mais plena da Deusa, por isso ela contém em si Bhu Devi e Nila Devi, como em um holograma. Nila Devi é o conjunto da consciência das gopis e das esposas de Krishna, que não sejam as próprias Radha/Rukmini – Candravali/Satyabhama. Shri Devi as contém em si, não podendo ser contida pelas demais, assim como Krishna contém em si seus avataras parciais, não sendo contido por eles.
3. Nos poemas de Shri Andal e Mira Bai, parece que elas só mostravam principalmente uma devoção pontual ao Senhor. Não mostraram elas devoção para com Shri Devi (Lakshmi/Radha/Rukmini/Sita) com a mesma intensidade com que o faziam para com o Senhor?
Andal em suas poesias se referiu a Shri Devi, sendo sim devota ardente dEla. A Shri Sampradaya tem ambas – Shri e Bhu Devi - em suas adorações e altares. Sendo Andal filha adotiva de um dos Alvars da Sampradaya, não deixou de se devotar à Shri Devi (Mahalakshmi) em nenhum momento. No entanto madhurya bhava sempre denota tal atração conjugal pelo vishaya, por Krishna. Isso é natural que aconteça, o que difere de sakhya e manjari bhava. Mira Bai se identificava com Radha, por causa dos seus momentos episódicos de unidade com Ela (nEla). Ao mesmo tempo, Ela demonstrava, em muitas de suas canções, sentimentos de separação e de sofrência por desejá-Lo em gopi bhava, ou seja, como parte da consciência de Nila Devi.
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