sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Madhurya Bhava em Poemas e Canções de Mirabai

Figure 1 - Krishna (by Pete Linforth)
 

Sumário do Livro Madhurya, a Rasa da Doçura


Escritos como o Décimo Canto do Shrimad Bhagavatam, a literatura devocional dos acharyas da Brahma-Madhava-Gaudiya Sampradaya e as composições de Shri Andal descrevem, analisam e expõem sentimentos e atitudes, que juntos compõem a experiência conjugal de Deus.

Como Krishna é uma Pessoa Suprema, contém um ponto central, que está alojado em Shri Radhe, e do qual tudo emana. Outras de Suas relações com múltiplas consortes estão mais próximas desse foco central, mas há as mais distantes.

Eventos como o de Shri Andal estão entre as lilas do Senhor que estão muito próximas do centro de origem de madhurya-bhava (em Bhu Devi). Deslocando-se apenas ligeiramente do componente central, mas ainda adjacente à expressão primária da atração conjugal, outro passatempo de Shri Mirabai torna-se evidente (em Nila Devi). 

Mirabai começou a mostrar sintomas de amor por Krishna ainda muito jovem. Ela desenvolveu um forte apego à murti do Senhor, que um sadhu lhe tinha dado. Mirabai e a sua mãe tiveram uma conversa sobre o casamento de uma jovem, quando viram um cortejo nupcial que passava e comentaram que o marido da sua filha seria Shri Krishna.

Este diálogo reforçou a tendência que já estava presente no coração de Mirabai, no entanto a sua família fez um acordo para a casar com o Príncipe Bhoj Raj de Chittor. Mirabai era infeliz no seu casamento porque sabia que estava casada com Krishna e vivia este matrimónio em consciência transcendental e cantava “Eu tenho o meu Giridhar Gopal e mais ninguém é meu”.

As canções de Mirabai também mostram que ela foi perseguida pelos seus sogros, especialmente por Vikramaditya, rei de Chittor, que queria impedir a sua adoração a Shri Hari. Mirabai resistiu a todas as suas interferências negativas, desenvolvendo um amor ainda mais intenso pelo Senhor. As experiências extáticas de Mira, que começaram em privado, acabaram por se tornar públicas. Ela não deixava de sair à noite para se encontrar com satsangs e discutir espiritualidade nas ruas.

Houve tentativas de a assassinar usando comida envenenada, pregos na sua cama e uma cobra num cesto. Em todos os casos, ela foi protegida por Shri Krishna. A pressão familiar era tão intensa que ela decidiu deixar o local e, sob as instruções de alguns sábios e santos, foi para Vrindavan com poucos seguidores.

Lá ela começou a dedicar-se plena e intensamente à sua devoção a Krishna. Ela passava horas cantando bhajans e/ou experimentando prema extático junto com seu amado Senhor.

Mira experimentou profundamente a madhurya rasa com Keshava e identificou-se com uma gopi de Vrindavana. Continuou a exprimir os seus sentimentos, demonstrando um profundo amor e felicidade e as suas composições expunham tanto os seus momentos de dor de separação (vipralambha), como os seus êxtases de união com o Senhor.

Ela deixou o corpo em Dwarka e entrou na Luz do coração de Shri Krishna.

 

Notas e conclusões 

A presença de interações conjugais com Keshava, como no caso de Andal e Mirabai, contribui para manter acesa a centelha do amor conjugal pelo Senhor. É necessário manter este amor como uma Chama Sagrada acesa nesta Era de Kali e esta chama é guardada por consortes eternas da Sua fonte, Shyamsundara. Isto serve como um farol que guia as almas que precisam dele mais diretamente.

Essas experiências mostram que o profundo amor de Shri Radharani não impõe limites a si mesmo. Ele se propaga em ondas de contemplação e êxtase, que intoxicam a alma que experimenta madhurya bhava. Tal poder impulsiona a alma a buscar a libertação e estimula o desejo de amor incondicional a Deus.

Questões/Respostas
Diálogo Entre V d e Guru Ma Shri


1. Como devemos entender o fato de Shri Mirabai ter se identificado com uma gopi de Vrindavan. Foi uma identificação emocional ou foi a realização transcendental da sua swaroopa original?

Devido à fidedignidade e continuidade da sua experiência, devemos entender que a identificação emocional de Mirabai com uma gopi de Vrindavana expressa a realização transcendental da sua swaroopa original. Há numerosos casos de devotos(as) que se identificam apenas emocionalmente com a experiência das gopis, mas sem que haja fidedignidade e continuidade, o que não tem relação com a vivência da alma eterna, mas apenas com uma necessidade do ego externo de se sentir amado por Krishna em tal humor. Para haver realização transcendental tem que haver uma experiência contínua e profunda, que se expressará através de escritos, poesias, músicas, ensinamentos, discipulados, dentre outras manifestações que comprovam a veracidade da autoidentificação.
 

2. Sou eu que interpretei mal as opiniões dos devotos de Sakhi e Manjari Bhava ou eles realmente querem dizer que, para Krishna, nenhuma outra gopi realmente importa, exceto Shrimati Radharani? Será que o Senhor realmente tem amor desigual por Suas consortes e Seus associados pessoais em geral?
 

Alguns devotos de sakhi e manjari bhava repetem isso sem nenhuma realização profunda do que dizem. São como papagaios, repetitivos. Por isso, não se deve misturar ensinamentos de linhas diferentes, para não perder tempo com o que não vai ajudar a alcançar o Senhor através da autorrealização do(a) Guru (Ma) específico(a) que se está seguindo. É óbvio que Krishna tem amor profundo e puro conjugal por todas as gopis e esposas, no entanto Radha/Rukmini é a fonte feminina desse amor, a própria Adi-Shakti em humor conjugal. De qualquer forma, conforme já expliquei em outras ocasiões, a intimidade conjugal com Ele só é possível quando há unidade com tal fonte (Radha/Rukmini) na multiplicidade das gopis/esposas, quando o amor dEle é sempre puro e perfeito, de modo que essa ideia de desigualdade desaparece da consciência autorrealizada.
 

3. Por vezes, é mesmo referido que Shri Lakshmi não conseguiu entrar na Dança da Rasa, apesar de ter realizado duras penitências para isso. Em caso afirmativo, como devemos entender este fato? Não revela um amor desigual da parte do Senhor pelas Suas consortes?
 

Essa é outra ideia errônea que não deve ocupar sua mente, pois sabemos que Lakshmi, Radha, Rukmini, Sita, Parvati, Sarasvati são apenas humores de uma mesma Pessoa. Lakshmi faz penitência para, na consciência de Radha (que é dEla mesma, da Adi Shakti), vivenciar a pureza e a perfeição da dança da rasa junto com Seu eterno e amado visaya (Shri Hari). Isso não revela amor desigual da parte do Senhor por Suas consortes, pois Radha e Lakshmi é a mesma Pessoa em humores e roupagens diferentes. Para estar em uma ou outra, Ela só precisa sintonizar com as ondas do pensamentos/sentimento e do corpo/vestimentas/ornamentos daquela em que quer estar, assim como quando sintonizamos com as ondas de uma rádio em particular. A penitência de Lakshmi é parte da lila eterna, um vrata e um pedido dEla (para com Vishnu), que tem como ápice a dança da rasa, na consciência de Radha com Krishna.

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