Figure 1 - Shri Krishna Caitanya na frente de um Templo da Gaudiya Math, Vrindavana.
Sumário do Livro Madhurya, a Rasa da Doçura
Neste capítulo, prema, conforme demonstrado pelos relatos das manjaris, é apresentado aqui, portanto, as esposas não serão mais mencionadas, mas o que está sendo proposto sobre Shri Radhe é estendido ao Seu outro humor completo (Shri Rukmini).
O estado elevado das gopis é óbvio. Shri Radha e Suas amigas gopis se articulam em torno de Madhava em diferentes períodos do dia com sentimentos de amor e rendição. Para saborear esse néctar, a alma que está associada a Krishna abre mão de muitas convenções. As gopis fazem isso e se entregam ao desejo de trocar continuamente relacionamentos com Hari.
Às vezes, há uma impaciência para obter o Senhor, e insaciável é o apetite que prema aguça. Isso queima o devoto como o sol e, ao mesmo tempo, o alivia devido aos vislumbres da forma, das qualidades e da doçura do Senhor. Entretanto, isso não é uniforme, pois se estabelece gradualmente. Sthayibhava (ou sentimentos espirituais permanentes) é subdividido em sentimentos iniciais (premankusa rupa) e sentimentos mais avançados (prema rupa). Quando os sentimentos mais avançados esclarecem a percepção, os sentimentos das fases anteriores deixam de ser desejáveis.
O estado maduro de bhava é chamado de prema.
Bhava não diminui, mas sua intensificação é o sintoma de prema, o estado maduro de afeição. A potência de prazer de Krishna, que é a consciência de Shri Radha, atinge estágios sucessivamente mais elevados de sentimentos de amor pelo Senhor. Cada estado mais elevado contém em si condições anteriores.
Sendo Radhika a potência de prazer de Shri Krishna, ela vive prema rupa espontaneamente e sem ser afetada. O que é muito específico de sua condição é a experiência de mamta (posse) de Shri Krishna em relação a Ela, já que Ela está em Maha-mahabhava. Isso é considerado como sentimentos mútuos de absoluta entrega à interação e ao relacionamento como um todo formado entre Radhe Shyam. Esse tipo de senso de propriedade que é mútuo só pode ser experimentado pela Shakti do próprio Senhor.
Nos comentários de Sri Sri Radha Rasa Sudhanidhi, de Srila Prabodhananda Saraswati, afirma-se que Krishna se sente grandemente abençoado quando é tocado até mesmo pela mais leve brisa agradável que vem da ponta da roupa de Shri Radhika. Radharani é o único oceano de Madana mahabhava e a fonte principal de mahabhava. O comentarista ressalta que qualquer pessoa que abandone o serviço a Shri Radhe, desejando a companhia pessoal de Govinda, é como alguém que quer desfrutar de uma lua cheia sem uma noite de lua cheia.
Os associados de Radharani estão diretamente sob a influência de sentimentos recíprocos da Fonte de Madhurya Rasa. Essa Fonte é a intenção de desfrutar o amor mais puro que se manifesta no Adi Purusha. A avidez do Senhor por experimentar tal prazer causa o prazer que Seu poder manifesta. O prazer é então sentido por faíscas desse Fogo do Amor (ou Oceano de Néctar) que aparecem como infinitas gopis e manjaris (gotas do oceano).
Dentro dessa realidade transcendental, Radharani é, entretanto, a única a conhecer o sentimento mais pleno que é sentido pelo foco da mamta do Senhor. Mas isso está sendo dito sobre o universo das Gopis de Vraja porque Shri Radha não é diferente de Shri Rukmini. O estado de amor eternamente elevado de Radharani é frequentemente lembrado em muitos relatos dados a partir das percepções de manjari bhava.
Esse estado de amor aparece em todos os diálogos dela com as outras gopis, por exemplo, o diálogo dela com Shri Lalita, que aparece no Vidagdha Madhava de Shri Rupa Goswami. Shri Radha mostra a inquietação típica da alma que está emaranhada nas teias amorosas de Shri Krishna e das quais não quer mais sair. Entretanto, essas teias pertencem a Ela, sendo Radhika a consciência que as produz, em interação amorosa com Keshava.
Suas companheiras íntimas (outras Gopis e Manjaris) estão inseridas em tais teias de interações com o Casal Divino. Elas são absorvidas pelo amor que se espalha por essas mesmas teias. O foco central do Madhurya Rasa Leela é Radheshyam, que mantém a unidade entre outras contrapartes associadas a esse foco. Essas ondas também se propagam por meio da consciência divina do Casal Divino que está em Rukmini Krishna; a unidade que existe entre as consortes que estão em Svakiya Madhurya Bhava é criada por Eles.
As teias de Madhurya Bhava se expressam na Terra mesmo em momentos diferentes, quando Shri Krishna não está presente diretamente no planeta, o que é o assunto da próxima seção deste livro.
Perguntas/Respostas
Diálogo Entre V d e Guru Ma Shri
1. Uma vez que a experiência de mamta de Shri Krishna, o senso de propriedade mútua e Madana Mahabhava são específicos da Shakti do Senhor - Shri Radharani-, isso implica que as outras gopis não experimentam isso? Será que as outras gopis podem experimentar plenamente o amor intenso que Shri Radha experimenta?
As outras gopis só experimentam mamta quando vivenciam a unidade com Radha em Radhe Shyam. Esse é amor mais intenso que existe, o qual é reciprocado pelo Casal Divino. As gopis que são expansões de Shri Radhe mais diretas têm a experiência de tal profunda relação com Ele, nos seus momentos de união perfeita e pura com Radhika.
2. Como entender a afirmação “Qualquer um que abandone o serviço a Shri Radhe, desejando a companhia pessoal de Govinda, é como alguém que quer desfrutar de uma lua cheia sem uma noite de lua cheia”. O envolvimento com o Senhor em emoção conjugal direta sem ter Manjari ou Sakhya bhava está sendo apontado aqui?
Sendo Radha Krishna duas pessoas em Uma, como desfrutar dEle (a lua cheia) sem estar em uma noite de lua cheia (nEla)? Não existe possibilidade de separar Radha de Krishna em se tratando do amor conjugal profundo. Para viver esse amor, é preciso vivenciar o sentimento que preenche o coração de Radha. Para desfrutar, portanto, da lua cheia é preciso estar em uma noite de lua cheia. Para os devotos da Brahma Madhva Gaudiya Sampradaya, no entanto, qualquer alma que vivencie Madhurya Rasa Lila tem que obrigatoriamente estar em manjari ou sakhya bhava. Minha interpretação é diferente, pois vivencio Madhurya Rasa Lila a partir da unidade com Radha em Radhe Shyam. Para mim, esses dizeres deixam claro que não dá para experimentar do amor conjugal com Krishna sem que se esteja em união perfeita e pura com Radharani.
3. Qual é o bhava das amigas íntimas de Shri Radha, Suas Ashtasakhis, como Shri Lalita? Elas desejam um relacionamento conjugal direto com Krishna ou desejam apenas encontros de Shri Radha com Krishna? Existem outras Gopis, além das manjaris, que não têm um relacionamento conjugal direto com Krishna?
As Ashtasakhis estão em unidade tão perfeita com Radha que as duas coisas são a mesma coisa, ou seja, desejar encontros de Shri Radha com Krishna significa desejar um relacionamento conjugal direto com Ele. Mas existem sim Gopis, além das manjaris, que não têm relacionamento conjugal direto com Madhava.
4. Entre o Mantra e o Nome do Senhor, o que é mais útil para obter acesso ao nosso Bhava? É o Mantra? É o Nome? Ou é aquele para o qual nos sentimos mais inclinados? O que devemos entoar mais? Para ter acesso ao nosso Bhava e estar entre os associados mais próximos do Senhor, é necessário um Mantra específico relacionado a esse Bhava? O Nome do Senhor entoado com devoção pode dar acesso ao nosso Bhava e, se o Nome é suficiente, por que precisamos do Mantra?
Isso depende da linha que você segue e de como seu Guru (Ma) lhe instrui. Se a instrução for de cantar mantras, então precisa cantar mantras. Se for o nome, recitar o nome. No meu caso, oriento a cantar três mantras diferentes, em diferentes horários do dia. Mas se o devoto desejar, além disso, cantar os nomes também pode, pois só irá reforçar sua devoção pelo Senhor, satisfazendo-o. O mantra específico de acesso ao bhava só forneço com a terceira iniciação, de renúncia e sannyas. No entanto, não considero que só o mantra ou só o nome sejam suficientes para levar alguém ao contato direto e puro com Deus. Em Kali Yuga, a contaminação da consciência está muito intensa, sendo preciso depuração forte e contínua dos anarthas, para que alguém se liberte das imperfeições que o(a) distanciam da lila transcendental.
5. Radha Krishna são chamas gêmeas uma da outra, mas o que dizer de outras consortes do Senhor que não são Shri Radha/Rukmini/Sita/Lakshmi? Não somos iguais a Ele de forma alguma e, como amamos Krishna em madhurya bhava, será doloroso ter outra pessoa como nossa chama gêmea, pois desejamos pertencer somente a Krishna. Quem é então a chama gêmea das outras consortes do Senhor?
As outras consortes em sua perfeita união com Radhe Shyam vivenciam a unidade de si mesmas com a Chama Gêmea original, portanto, mesmo seus pares espirituais existem também em unidade com o Divino Casal. Tudo se torna Um e todos se sentem iguais a Ele, vivenciando o sat-cit-ananda da perfeita união em Deus, em Radhe Shyam. O desejo de pertencer somente a Krishna se pronuncia para todos os que o alcançam, pois Ele é o Princípio e o Fim de tudo o que existe. Quando o alcançamos, a impressão de dualidade desaparece e somos eternamente conscientes da multiplicidade das chamas gêmeas como uma coisa só, sendo Unas na Chama Gêmea original.
Figure 2 - Shyama Kunda, lugar de Madhurya Rasa Lila.
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