segunda-feira, 19 de julho de 2021

Memórias de Madhurya I: Amor incondicional

 



Escrevo estas memórias por precisar, de alguma forma, expor meus sentimentos por Krishna. Vivo incondicionalmente para as decisões dEle ao meu respeito, não havendo nada que não possa fazer caso Ele queira que eu faça. Afinal, a vida só vale a pena ser vivida quando ela tem um significado profundo. Isso porque viver em tempos tão conturbados é custoso demais. Sendo assim, o significado que se tenha avivado no coração para o que representamos para a Pessoa Suprema é a expressão em si da aliança que temos com Ele.

No meu caso específico, desejo afoitamente ser a melhor entre aqueles que Madhava assim os descreve para Arjuna, dizendo:

 

mayy avesya mano ye mam

nitya-yukta upasate

sraddhaya parayopetas

te me yuktatama matah

 

Ou seja, “aqueles que me adoram, são absortos e sempre unidos a Mim e dotados de fé transcendental, Eu os considero os melhores conhecedores de Yoga (BG 12.2)”.

Afinal, o conhecimento de Yoga não tem outra conotação que não seja alcançar a rendição a Deus e a nada mais (na pureza da consciência). Ishvara-pranidhana é tal condição, uma das cinco disciplinas internas, sobre as quais dialogo em uma aula gravada em vídeo que qualquer um pode assistir (basta clicar aqui). No entanto, nestas memórias, quero esclarecer que pratico tal disciplina estando ativa em um academicismo que é Krishna mesmo que me oferece. Sou sim uma acadêmica da área da educação superior e da educação diferenciada, que deseja ensinar direitos humanos e liberdade para todos.

Mas, só faço isso porque tudo o que faço é parte da minha profunda eterna relação com Keshava. Sobre ela já escrevi livros, e um dos que mais expressam meu bhava de Amor Conjugal é Madhurya, a Rasa da Doçura. Partindo de tudo isso que escrevi e que vivencio ao lado de Krishna, só tenho a dizer que é possível sim, estar junto dEle enquanto se está também aqui no mundo material de Kali Yuga. Só que, neste caso, a vida externa se transcendentalizou, integrando a vida que se tem que viver ao lado dEle.

Tal estado de consciência é o Yoga em sua mais perfeita expressão, o que liberta do sofrimento, pois não há mais por que se deixar pensar enquanto sofredor. Até porque, conforme Krishna também falou:

 

nirmana-moha jita-sanga-dosa

adhyatma-nitya vinivrtta-kamah

dvandvair vimuktah sukha-duhkha-samjnair

gacchanty amudhah padam avyayam tat


O que significa mais ou menos o seguinte: “As pessoas sábias libertas do orgulho e ilusão, tendo conquistado os males do apego material e que estão sempre dedicadas à busca espiritual, completamente livres de desejos materiais e desprovidas de dualidades na forma de prazer e dor, vão para essa morada eterna (BG 15.5)”. A morada eterna a que Ele se refere é exatamente ao Seu lado, de onde posso olhar para cá sem ter que sair de lá. Ou às vezes me ausentar um pouco mais, voltando, no entanto, para de onde não quero jamais sair, assim que Ele permite que eu volte, deixando as coisas daqui para depois.

O depois é o momento certo para agir, contando com os recursos e as pessoas que Ele nos traz. Portanto, não há de fato nada a temer, só a se regozijar por amá-Lo, cumprindo com uma função que é a mais essencial de todas as funções. Só quero isso na vida, então faço tudo o que é preciso fazer dentro do que meu Amado me mostra que é para eu realizar.

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