Em Bhakti-Rasa
tem-se como meta a entrada nas lilas
da Pessoa de Deus, nas quais se nutrir de amor eterno, puro e incondicional.
Este tipo de nutriente preenche a vida de sat-cit-ananda
e o mundo se torna luz transcendental. No entanto, as lilas só podem ser acessadas por quem purificou mente e coração,
libertando-se do que condiciona as pessoas ao mundo linear.
Isto porque os
passatempos do Senhor não pertencem ao universo da existência material, embora,
muitos aspectos do mesmo possam tornar-se transcendentalizados.
Aspectos do
mundo concreto se transcendentalizam quando a Pessoa Suprema interage
diretamente com algum(ns) dos Seus associados em lila eterna, na interseção com o mundo linear. Mas, tal
circunstância é muito rara e, portanto, o processo que aqui se descreve é
direcionado ao que mais comumente se encontrará entre os devotos de Bhagavan Shri Krishna (e/ou Shiva).
Entre os devotos, deve haver depuração da consciência, a
qual precisa ascensionar a dimensões divinas e transcendentais.
Para que haja
depuração e ascensão, no entanto, é necessário sadhana orientado por um mestre espiritual fidedigno. Sadhana é a rotina diária em que o
significado das escolhas por atitudes e atividades deve predominantemente
conduzir à transcendência da linearidade do raciocínio.
Quando alguém ainda não
está consciente na lila eterna, não
terá facilidade de observar-se a partir de ângulos de visão através dos quais a
consciência transcendental pode observá-lo. De forma que, é importante para o
devoto sério e interessado em transpor as fronteiras da linearidade render-se à
mestria de quem pode conduzi-lo às dimensões divinas da consciência.
O sistema filosófico-religioso da Fé Neo-Bhagavata,
apesar de contar com alguns alicerces doutrinários antecedentes, dispõe de
conjunto próprio de novas Escrituras Sagradas.
Esta nova maneira de manifestar
amor e devoção à Pessoa de Deus (Bhagavan)
tem também ritualísticas e processos de aprendizagem e aprimoramento do caráter
que lhes são específicos. Dentre estes últimos, Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor
de Lótus (2016) propõe um conjunto de procedimentos “que conduz a alma à
experiência da associação individual com a Pessoa de Deus”.
Tendo sido conduzida à tal associação, “ao
adentrar na lila eterna, a alma vê as
atividades dEle, dentre as quais algumas a estimulam mais fortemente (uddipanas).
Então, de acordo com a
natureza que Deus lhe concedeu e de como ela reage aos estímulos, um humor (ou
sabor) específico da relação se expressa, que é bhava”.
No entanto, “sendo rasa
algo confidencial aos associados do supremo visaya
(objeto de adoração e devoção), Bhakti-rasa somente pode ser acessada
por instrução obtida através de algum de tais associados ou, mais raramente,
por misericórdia direta do Senhor”.
Como uma associada íntima dEle que sou e na qualidade de
mestra espiritual deste nosso novo sistema filosófico-religioso, passo a
descrever sete chaves que abrem as portas ao universo da lila eterna de Shri Krishna (e/ou Shiva).
Ele mesmo as expõe para
mim, para que eu possa instruir ao discipulado sobre os mecanismos através dos
quais eles precisam aprender a locomoverem-se. Tais mecanismos reforçam a Lógica
Sétupla, a qual foi descrita insistentemente por meio de diversos dos
instrumentos literários e práticas de Nova Era que vimos revelando para a
consciência do mundo linear (desde 2011).
Quatro deles se referem ao universo
pessoal dentro do plano transcendental:
(1) sambandha
- situação funcional da alma com relação à Pessoa de Deus;
(2) rasa - relação emocional da alma para
com Ele;
(3) lila – passagem da
história eterna da Pessoa Suprema onde a alma se encaixa; e
(4) bhava
– humor da relação da alma com Deus, o que resulta da interação entre os elementos
1, 2 e 3.
Os outros três mecanismos traduzem-se em interações da pessoa eterna
individual, segundo sua condição dentro do Universo da Pessoa Suprema, com o
mundo linear.
Explico melhor os quatro primeiros para, a seguir,
adentrar nos significados dos três últimos mecanismos. De antemão, reforço que
todos estes sete aspectos de Bhakti-rasa
só podem ser revelados ao devoto pela
consciência transcendental de alguém autorizado por Bhagavan para dar acesso à Sua lila
transcendental a determinadas almas através dos mesmos.
Ou, então, Ele mesmo, o
Senhor, pode preparar Seus representantes, revelando a eles às suas interações
pessoais com tais mecanismos. Este é o caso dos acharyas fundadores de novas linhas de devoção, o que é, portanto,
um tanto quanto incomum.
O fato é que para compreender-se com clareza sambandha, rasa, lila e bhava, é preciso ter conhecimento
transcendental e, portanto, franco acesso à Consciência Absoluta do Senhor.
Ao perceber-se como Ele, que é o Todo, faz-se multiplicidade, dando alguma atribuição a cada uma de Suas partes, começa-se a
entender o que são personificações de aspectos dEle mesmo.
Algumas personificações também se multiplicam, seja como
pessoas que vivenciam aspectos dos passatempos do Senhor, seja como expansões
de tais pessoas. Então, para conhecer a sambandha
de alguém em particular é preciso ter um “olhar de raio x” e/ou a
penetrabilidade na esfera de intimidade de Shri Krishna (e/ou Shiva).
A situação
funcional da alma para com a Pessoa de Deus é o lugar onde ela (a alma) se
encaixa dentro da multiplicidade dEle (de Deus).
Por exemplo, Srimati Radharani
é a Shakti de Krishna ou seu jeito de
ser feminino, a qual tem muitas formas e/ou personificações com diferentes
atribuições. Já Sankarshana é vontade divina ou poder de criação de Deus, sendo
Balarama e Lakshmana duas de suas personificações. Nestes dois exemplos, temos
dois sambandhas diferentes.
Por outro
lado, se compararmos Radha e Yashoda, temos a mesma figura da Shakti do adi-Purusha, mas, em dois humores distintos. Os dois casos compõem um mesmo sambandha. No entanto, as
duas personificações da energia feminina primordial existem em rasas diferentes.
Radhika é a amante de Krishna e, portanto, sua relação
emocional para com Ele expressa sentimentos de amor conjugal (madhurya-rasa). Yashoda, por sua vez, é
mãe de Krishna, então, existe em vatsalya-rasa,
envolvendo o Senhor com seu amor materno.
Tanto estas duas manifestações da adi-Shakti, quanto Balarama, estão
associados às mesmas lilas. Yashoda
cria os dois irmãos, Krishna e Baladeva, os quais convivem com as gopis nas pastagens e florestas de
Vraja.
Portanto, ambos coexistem e interagem com Radha e suas amigas
vaqueirinhas. Mas, os bhavas de
Dauji, Radhika e mãe Yashoda são distintos.
Balarama vive o humor de irmão mais
velho e amigo íntimo da Pessoa Suprema nas pastagens de Vraja, mas, também no
ambiente palaciano de Dwarka. Mãe Yashoda está em humor de mãe apenas nas
paisagens rurais do período da infância dos dois irmãos, enquanto Radharani se
desespera tantas vezes ao ver seu amado Shyam cercado pela atenção de tantas
damas de sua idade.
Enfim, são universos pessoais diferentes, que se tocam,
compondo a experiência transcendental de Madhava.
O mestre espiritual que
circula entre tais universos, estando ele(a) mesmo(a) consciente de seus sambandha, rasa, lila e bhava, se for o desejo do Senhor, pode
conduzir outros a suas devidas posições dentro de tais moradas transcendentais.
Quando estes quatro primeiro elementos, por revelação do Guru (Guru Ma) já são
conhecidos do devoto, ele passa a meditar em torno de sua vida espiritual,
desapegando ainda mais do mundo externo temporário. Só, então, os outros três
mecanismos farão algum sentido para quem está desta forma procurando por
autorrealização e libertação.
O mestre espiritual irá, a partir daí, trabalhar
com seus discípulos à interação da consciência transcendental com o mundo
linear, o que está nos seguintes elementos:
(1) desenho de como esta pessoa,
que se reconhece em um padrão de lila
eterna, ancora sua inteligência no universo da materialidade, com compromissos
específicos para sua permanência na Terra;
(2)
maneira de se confrontar com o mundo externo, a fim de cumprir com os
mesmos compromissos, ao mesmo tempo em que se mantém em consciência de manasi seva; e
(3) vivência de uma
relação de amor profundo com a Fonte de todos os aspectos da lila eterna – o Casal Divino, Radha
Krishna (e/ou Shiva Parvati).
Tudo o que aqui se coloca está na minha consciência
transcendental, sendo traduzido para a mente que se alinha ao processo do
sistema filosófico-religioso que revelo e no qual oriento a prática do que
neste artigo apresento.
Embora o conteúdo abordado possa ajudar todos os
interessados em vida espiritual, transcendentalismo, Krishna-Bhakti (e/ou Shiva
Tantra), ele será melhor aproveitado quando houver interações diretas com minha
maneira de ensinar a prática dos mesmos conteúdos.
Para os interessados, sugiro
a leitura dos livros: Religião Bhagavata da Nova Era (2014), Madhurya, a Rasa
da Doçura (2015), Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus (2016), Shiva Tantra
para Libertação Espiritual (2017) e Ayahuasca e os Jardins de Krishna (2017).
Ademais, me coloco a disposição de quem, por amor ao Senhor, deseje libertar-se de todo condicionamento à linearidade.
Estou preenchida de bhava amoroso por Madhava (Rudra) e espontaneamente ando pelo mundo
espalhando em torno de mim rasa e lila, conhecedora que sou de todo sambandha e de suas aplicações.
Portanto, que a vida da alma se faça sentido ao dar-me o sentido que a mim
mesma o Senhor quer dar para aquele que venha por minha mestria procurar.