sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Lila Eterna: Transcendendo Dimensões da Consciência



Em Bhakti-Rasa tem-se como meta a entrada nas lilas da Pessoa de Deus, nas quais se nutrir de amor eterno, puro e incondicional. 

Este tipo de nutriente preenche a vida de sat-cit-ananda e o mundo se torna luz transcendental. No entanto, as lilas só podem ser acessadas por quem purificou mente e coração, libertando-se do que condiciona as pessoas ao mundo linear. 

Isto porque os passatempos do Senhor não pertencem ao universo da existência material, embora, muitos aspectos do mesmo possam tornar-se transcendentalizados. 

Aspectos do mundo concreto se transcendentalizam quando a Pessoa Suprema interage diretamente com algum(ns) dos Seus associados em lila eterna, na interseção com o mundo linear. Mas, tal circunstância é muito rara e, portanto, o processo que aqui se descreve é direcionado ao que mais comumente se encontrará entre os devotos de Bhagavan Shri Krishna (e/ou Shiva).

Entre os devotos, deve haver depuração da consciência, a qual precisa ascensionar a dimensões divinas e transcendentais. 

Para que haja depuração e ascensão, no entanto, é necessário sadhana orientado por um mestre espiritual fidedigno. Sadhana é a rotina diária em que o significado das escolhas por atitudes e atividades deve predominantemente conduzir à transcendência da linearidade do raciocínio. 

Quando alguém ainda não está consciente na lila eterna, não terá facilidade de observar-se a partir de ângulos de visão através dos quais a consciência transcendental pode observá-lo. De forma que, é importante para o devoto sério e interessado em transpor as fronteiras da linearidade render-se à mestria de quem pode conduzi-lo às dimensões divinas da consciência.

O sistema filosófico-religioso da Fé Neo-Bhagavata, apesar de contar com alguns alicerces doutrinários antecedentes, dispõe de conjunto próprio de novas Escrituras Sagradas. 

Esta nova maneira de manifestar amor e devoção à Pessoa de Deus (Bhagavan) tem também ritualísticas e processos de aprendizagem e aprimoramento do caráter que lhes são específicos. Dentre estes últimos, Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus (2016) propõe um conjunto de procedimentos “que conduz a alma à experiência da associação individual com a Pessoa de Deus”.  

Tendo sido conduzida à tal associação, “ao adentrar na lila eterna, a alma vê as atividades dEle, dentre as quais algumas a estimulam mais fortemente (uddipanas). 

Então, de acordo com a natureza que Deus lhe concedeu e de como ela reage aos estímulos, um humor (ou sabor) específico da relação se expressa, que é bhava”. 

No entanto, “sendo rasa algo confidencial aos associados do supremo visaya (objeto de adoração e devoção),  Bhakti-rasa somente pode ser acessada por instrução obtida através de algum de tais associados ou, mais raramente, por misericórdia direta do Senhor”.

Como uma associada íntima dEle que sou e na qualidade de mestra espiritual deste nosso novo sistema filosófico-religioso, passo a descrever sete chaves que abrem as portas ao universo da lila eterna de Shri Krishna (e/ou Shiva). 

Ele mesmo as expõe para mim, para que eu possa instruir ao discipulado sobre os mecanismos através dos quais eles precisam aprender a locomoverem-se. Tais mecanismos reforçam a Lógica Sétupla, a qual foi descrita insistentemente por meio de diversos dos instrumentos literários e práticas de Nova Era que vimos revelando para a consciência do mundo linear (desde 2011). 

Quatro deles se referem ao universo pessoal dentro do plano transcendental: 

(1) sambandha - situação funcional da alma com relação à Pessoa de Deus; 
(2) rasa - relação emocional da alma para com Ele; 
(3) lila – passagem da história eterna da Pessoa Suprema onde a alma se encaixa; e 
(4)  bhava – humor da relação da alma com Deus, o que resulta da interação entre os elementos 1, 2 e 3. 

Os outros três mecanismos traduzem-se em interações da pessoa eterna individual, segundo sua condição dentro do Universo da Pessoa Suprema, com o mundo linear.
       
Explico melhor os quatro primeiros para, a seguir, adentrar nos significados dos três últimos mecanismos. De antemão, reforço que todos estes sete aspectos de Bhakti-rasa só  podem ser revelados ao devoto pela consciência transcendental de alguém autorizado por Bhagavan para dar acesso à Sua lila transcendental a determinadas almas através dos mesmos. 

Ou, então, Ele mesmo, o Senhor, pode preparar Seus representantes, revelando a eles às suas interações pessoais com tais mecanismos. Este é o caso dos acharyas fundadores de novas linhas de devoção, o que é, portanto, um tanto quanto incomum. 

O fato é que para compreender-se com clareza sambandha, rasa, lila e bhava, é preciso ter conhecimento transcendental e, portanto, franco acesso à Consciência Absoluta do Senhor.  

Ao perceber-se como Ele, que é o Todo, faz-se multiplicidade, dando alguma atribuição a cada uma de Suas partes, começa-se a entender o que são personificações de aspectos dEle mesmo.

Algumas personificações também se multiplicam, seja como pessoas que vivenciam aspectos dos passatempos do Senhor, seja como expansões de tais pessoas. Então, para conhecer a sambandha de alguém em particular é preciso ter um “olhar de raio x” e/ou a penetrabilidade na esfera de intimidade de Shri Krishna (e/ou Shiva). 

A situação funcional da alma para com a Pessoa de Deus é o lugar onde ela (a alma) se encaixa dentro da multiplicidade dEle (de Deus). 

Por exemplo, Srimati Radharani é a Shakti de Krishna ou seu jeito de ser feminino, a qual tem muitas formas e/ou personificações com diferentes atribuições. Já Sankarshana é vontade divina ou poder de criação de Deus, sendo Balarama e Lakshmana duas de suas personificações. Nestes dois exemplos, temos dois sambandhas diferentes. 

Por outro lado, se compararmos Radha e Yashoda, temos a mesma figura da Shakti do adi-Purusha, mas, em dois humores distintos. Os dois casos compõem um mesmo sambandha. No entanto, as duas personificações da energia feminina primordial existem em rasas diferentes.

Radhika é a amante de Krishna e, portanto, sua relação emocional para com Ele expressa sentimentos de amor conjugal (madhurya-rasa). Yashoda, por sua vez, é mãe de Krishna, então, existe em vatsalya-rasa, envolvendo o Senhor com seu amor materno. 

Tanto estas duas manifestações da adi-Shakti, quanto Balarama, estão associados às mesmas lilas. Yashoda cria os dois irmãos, Krishna e Baladeva, os quais convivem com as gopis nas pastagens e florestas de Vraja. 

Portanto, ambos coexistem e interagem com Radha e suas amigas vaqueirinhas. Mas, os bhavas de Dauji, Radhika e mãe Yashoda são distintos. 

Balarama vive o humor de irmão mais velho e amigo íntimo da Pessoa Suprema nas pastagens de Vraja, mas, também no ambiente palaciano de Dwarka. Mãe Yashoda está em humor de mãe apenas nas paisagens rurais do período da infância dos dois irmãos, enquanto Radharani se desespera tantas vezes ao ver seu amado Shyam cercado pela atenção de tantas damas de sua idade.

Enfim, são universos pessoais diferentes, que se tocam, compondo a experiência transcendental de Madhava. 

O mestre espiritual que circula entre tais universos, estando ele(a) mesmo(a) consciente de seus sambandha, rasa, lila e bhava, se for o desejo do Senhor, pode conduzir outros a suas devidas posições dentro de tais moradas transcendentais. 

Quando estes quatro primeiro elementos, por revelação do Guru (Guru Ma) já são conhecidos do devoto, ele passa a meditar em torno de sua vida espiritual, desapegando ainda mais do mundo externo temporário. Só, então, os outros três mecanismos farão algum sentido para quem está desta forma procurando por autorrealização e libertação. 

O mestre espiritual irá, a partir daí, trabalhar com seus discípulos à interação da consciência transcendental com o mundo linear, o que está nos seguintes elementos: 

(1) desenho de como esta pessoa, que se reconhece em um padrão de lila eterna, ancora sua inteligência no universo da materialidade, com compromissos específicos para sua permanência na Terra; 

(2)  maneira de se confrontar com o mundo externo, a fim de cumprir com os mesmos compromissos, ao mesmo tempo em que se mantém em consciência de manasi seva; e 

(3) vivência de uma relação de amor profundo com a Fonte de todos os aspectos da lila eterna – o Casal Divino, Radha Krishna (e/ou Shiva Parvati).
           
Tudo o que aqui se coloca está na minha consciência transcendental, sendo traduzido para a mente que se alinha ao processo do sistema filosófico-religioso que revelo e no qual oriento a prática do que neste artigo apresento. 

Embora o conteúdo abordado possa ajudar todos os interessados em vida espiritual, transcendentalismo, Krishna-Bhakti (e/ou Shiva Tantra), ele será melhor aproveitado quando houver interações diretas com minha maneira de ensinar a prática dos mesmos conteúdos. 

Para os interessados, sugiro a leitura dos livros: Religião Bhagavata da Nova Era (2014), Madhurya, a Rasa da Doçura (2015), Bhakti-Rasa e o Caminho da Flor de Lótus (2016), Shiva Tantra para Libertação Espiritual (2017) e Ayahuasca e os Jardins de Krishna (2017). 

Ademais, me coloco a disposição de quem, por amor ao Senhor, deseje libertar-se de todo condicionamento à linearidade. 

Estou preenchida de bhava amoroso por Madhava (Rudra) e espontaneamente ando pelo mundo espalhando em torno de mim rasa e lila, conhecedora que sou de todo sambandha e de suas aplicações. Portanto, que a vida da alma se faça sentido ao dar-me o sentido que a mim mesma o Senhor quer dar para aquele que venha por minha mestria procurar.

Apresentação Geral

Madhurya é a vida se expressando como fluência amorosa, doce e linda. ...