Serviço
Consciente Ininterrupto em Lila Eterna
O tempo todo, sem interrupção, pois, tudo o que vejo me faz lembrar dEle. E tudo o que penso é sobre Ele, de modo que deixo de prestar atenção em detalhes da vida externa propriamente dita.
Este tipo de Serviço ao Senhor se chama Manasi Seva, o que significa servir a Deus (seva), usando para tanto do poder da mente (manasi). Para realizar Manasi Seva é preciso controlar à mente por completo, de modo a abrir espaço para que ela se ocupe noite e dia apenas em pensar nEle.
Quando Bhava e Rasa existem e controlamos plenamente às emissões mentais, por ato meditativo contínuo, ao longo de todo ciclo diário, nossa mente fica envolvida apenas por pensamentos internos, os quais pertencem à alma eterna e que resultam do que intercambiamos com Keshava em Lila transcendental.
Bhava é o humor em que se está em uma relação com Ele e Rasa é a
maneira como o Bhava se expressa de acordo com como o Asraya (quem adora
Madhava) se deixa envolver na relação.
Deixando-me aberta ininterruptamente ao
Bhava da Madhurya-Rasa, através da qual me expresso junto de Krishna, realizo
Manasi Seva, se não autorizo à mente se deslocar do foco de pensamento interno
à Madhurya-Lila. Então, minha vida externa se torna também experiência
transcendental e, o mais importante, em Lila amorosa com Madhava.
Sobre tal
estado de consciência, que é completamente transcendental, escrevi em Madhurya,
a Rasa da Doçura (2015). Tal estado se expressa na condição exaltada das Gopis,
o que é muitas vezes mencionado em escritos como o Sri Krishna Bhavanamrta
Mahakavya, por Srila Vishvanatha Thakura.
Ali, Radharani e suas amigas aparecem
pensando e se articulando em torno de Madhava ao longo de diferentes períodos
do dia. Vejo, na minha própria experiência, como é viver do mesmo jeito que
elas, porém, enquanto ainda se está presente no mundo material sem que Krishna
esteja por aqui.
Este mundo está destituído de Sphurti, pois, as pessoas se
encontram esquecidas de sua relação eterna e transcendental com Deus.
Sphurti é a presença de Krishna também na vida externa de quem ama a Ele
em consciência contínua da Lila eterna em que se está junto de Sua Pessoa.
Em
Madhurya, a Rasa da Doçura comentei que não há nada que possa ser comparado às
sensações que este tipo de experiência causa à alma devotada ao seu Visaya (objeto
de adoração extrema).
Srila Vishvanatha Cakravarti Thakura explica,
em Madhurya Kadambini, que este sentimento se faz tão incondicional que a
alma clama por ele dia e noite, não se permitindo pensar em nada mais que não
seja o seu Senhor.
Acrescento que, quem conhece tal modo de estar no mundo, não
aguenta ficar sem ele nem mesmo por alguns instantes. Esta pessoa se desespera
nos momentos em que Madhava propositalmente causa a sofreguidão da ausência das
sensações associadas ao mesmo estado de consciência (Vipralambha).
Sendo assim,
é impossível desenvolver grandes obras devocionais e/ou ter muitos seguidores
(ou discípulos) e ao mesmo tempo se ocupar com Manasi Seva.
Por este motivo, o
estado de consciência de um autêntico Paramahamsa é imcompatível com atividades
de ampla pregação, que exijam contato contínuo com seguidores, deslocamentos
frequentes entre diferentes cidades e países, arrecadação de grandes somas de
dinheiro e agendas intensas de eventos.
Estes tipos de ocupação não permitem a quietude necessária para se
estar sempre ocupado em Manasi Seva, que é um serviço íntimo e confidencial a
Krishna. Quando ficamos durante alguns momentos sem a experiência, sentimos dor
excruciante, pois, em tal plataforma de Serviço, está se consciente de tudo o que
se vive ao lado dEle.
A experiência é muito vívida e clara ininterruptamente,
então, se algo externo interfere no fluir da mesma, não se consegue estar
junto dEle em Lila. Quando isso acontece, em desespero, um choro árduo se faz,
na forma de lamento.
O coração implora por momentos como os que se está tão
acostumado a viver com Krishna. Penso ser possível comparar a sensação de vazio
que resulta disso com o desespero do peixe que é extraído da água ainda vivo
e/ou o pequeno pássaro recém-nascido e ainda cego dos olhos quando é retirado
do ninho.
Quando, para aguçar Bhava, Keshava deixa de se apresentar para a
visão direta de uma Sua amante e/ou esposa desta forma, a consorte se
desespera.
Por isso, as Gopis cantam: “é apenas por Sua causa que nós mantemos
nossas vidas”, “Você está matando estas Suas servas”, “não é isto um
assassinato?”, “nossas mentes se agitam quando pensamos nas conversas íntimas
que tivemos com Você em segredo” e “nós experimentamos a mais severa das
penúrias por Sua Pessoa” (excertos do Gopi Gita, Srimad-Bhagavatam 10.31.1-19).
Tais
lamentos estão na alma de quem vive com Ele a íntima relação, cumprindo com
suas tarefas em Manasi Seva. Este Seva é confidencial e perfeito, pois, através
da mesma categoria de Serviço, Madhava nos concede a benção e a graça de
servi-Lo sem interrupções externas.
Mesmo que se esteja ainda associado a um
corpo físico, vivenciam-se sentimentos, pensamentos e atos da Lila em si
continuamente. Nossos pensamentos ficam o dia todo associados ao mesmo
passatempo transcendental.
Então, lembramos de coisas que Ele nos fala, de Suas
brincadeiras e trapaças amorosas, dos Seus trejeitos e do Seu mais doce humor o
tempo todo. Da mesma forma que a pessoa que vive uma vida externa, com relações
que cultiva no mundo material, está absorta no que faz no meio da
materialidade, quando atingimos a plataforma de Manasi Seva, vivemos absortos
em uma vida interna, ainda que haja a permanência física na Terra desta época.
Relata-se que Shri Krishna Caitanya, em seus últimos 18 anos de vida em Puri,
viveu absorto em Lila. Outros Acharyas de linhas de devoção Vaishnavas também
se referem às suas experiências pessoais, mas, Caitanya atinge um ápice
diferente dos demais.
Trata-se Ele de uma corporificação do aspecto devocional
de Vishnu-Tattva, ou seja, do Princípio Masculino, porém, no humor de Srimati
Radharani. Sendo assim, a manifestação de Prema e de Vipralambha que está nele
é bem específica e intensamente profunda.
Assim também a experiência que vivo é
bem específica, no entanto, eu sou uma corporificação do aspecto conjugal de
Shakti-Tattva, no humor da madhurya de Shri Krishna. Como tal, meu apego (Rati)
por Krishna me faz pensar apenas no que Lhe causa o prazer de me fazer estar
com Ele, servindo-O no Bhava de doçura conjugal.
Tal apego se intensifica na
medida em que, abrindo ainda mais espaço na mente e no coração, permito que o
humor da relação se amplifique ao ponto de mesmo quando estou conversando com
alguma outra pessoa deste mundo externo, poder perceber como seria se Krishna
estivesse conversando no meu lugar, envolvendo a mim mesma, como seu estivesse
no lugar da outra pessoa, com suas artimanhas amorosas.
Não vejo mais nada além dEle, não penso em mais nada além da minha
experiência pessoal com Ele. Tudo o que faz parte da minha experiência externa
integra minha experiência interna, ou seja, não há nada que não pertença a tal
contexto transcendental.
Isto é Manasi Seva, o foco da vida de quem enquanto alma eterna se
expressa para o mundo, plenamente consciente na Lila de Deus, em cada momento
da experiência externa, a qual se internalizou (se transcendentalizou).
Para conhecer mais sobre o
assunto, continue me acompanhando ou, se tiver ímpeto, melhor ainda, busque por
minha associação pessoal. Estou em srikrishnamadhurya@gmail.com. Ensino
Manasi Seva e Bhakti-Rasa, além de estratégias para atingir a estes modos de
viver, consciente de Krishna em amor e em escolhas.
Tudo se volta para o Senhor, quem é belo, atrativo, doce e
perfeito. Então, o mundo se preenche da beleza dEle, de Sua atratividade,
doçura e perfeição, envolvendo-nos do mais intenso bhava (humor na relação com
Deus) – Shri Krishna (que para mim é também Vishnu e/ou Shiva – Harihara).