quarta-feira, 15 de maio de 2024

Gopi Gita: verso 4



Os comentários ao verso que seguem foram obtidos do livro Gopi Gita: a Canção do Amor Puro e Perfeito, de Shri Krishna Madhurya (2020). Nele se comenta que "esta canção de amor puro e perfeito existe na eternidade de um tipo de relação em particular". Tal relação é a mesma que as gopis expressam enquanto manifestações de uma poética existência eterna. Vindo da mente delas, o verso 4 diz:

 

na khalu gopika-nandano bhavan

akhila-dehinam antaratma-drk

vikhanasarthito visva-guptaye

sakha udeyivan satvatan kule

 

“Na verdade, Você não é o filho de Nanda e Yashoda, mas sim a consciência primordial dos seres viventes que nasceu na Dinastia dos Satvatas para proteger o universo, como resposta às preces do Senhor Brahma”.

 

Shri Krishna Madhurya comenta:

Krishna aparece entre os Yadus, Vrsnis e Satvatas[i], em uma dinastia de kshatriyas[ii]. A questão aqui não está em negar-se a maternidade de Yashoda e a paternidade de Nanda Maharaja, pois ambos foram a mãe e o pai de criação de Krishna. O que está sendo afirmado é apenas que Ele não se resume a uma criança que nasceu na Terra como as demais crianças, sendo filho de um casal como normalmente acontece com todas as pessoas.

Madhava é a superalma que é o Eu Interior divino e transcendental que pode ser acessado através do coração puro e imaculado de quem a Ele se devota. Quando nossa associação com Ele se torna tão pura como a que aqui é descrita através dos sentimentos que alimentamos em nossos corações de Amantes dEle, conhecemos a experiência da unidade com esta Pessoa. Porém, jamais desejaríamos perder a consciência de sermos Suas Amadas. A perfeição do bhava é tão pura e intensa que não trocamos ela pela sensação que a fusão com o Brahman impessoal nos causa.

Mesmo assim, conscientes que somos de quem Ele é, reafirmamos eternamente Sua Suprema Personalidade. No livro Religião Bhagavata da Nova Era (2014), comentei sobre a percepção que temos dEle em Seus três aspectos:

 

(1) Bhagavan, a Pessoa de Deus ou Suprema Personalidade, com a qual todas as outras pessoas podem se relacionar; (2) Brahman, a refulgência ou brilho do Senhor, que a tudo permeia e, portanto, pode ser sentida e experimentada através de vivências transcendentais; e (3) Paramatma, a presença de Deus em cada um dos corações, a qual é precisamente a maneira de ser dEle para com a alma em particular, segundo a peculiaridade de cada um.

Este verso da canção eterna que expressa alguns dos sentimentos amorosos das gopis por Krishna, faz menção ao terceiro aspecto acima mencionado. O Paramatma está presente no coração de cada ser vivente. Sendo Deus uma Pessoa, há um jeito de ser dEle para cada um de nós, almas que eternamente o amam de alguma maneira específica. Exatamente por este motivo, existem diferentes religiões no mundo. Também por este motivo, há distintos bhavas (ou humores) através dos quais experimentamos a vida ao lado dEle.

Sobre os bhavas, tecemos muitas explicações em um texto intitulado Rasa Tattva – princípios do Amor Divino (2013). Dentro dele, Krishna esclarece: “há diferença entre como algum dos meus associados demonstra o que se passa em seu mundo interior daquilo que em outro alguém pode aparecer, pois cada qual tem algo a experimentar segundo o que se faz lhe pertencer”. Madhurya rasa é como o vemos, quando o amamos em humor conjugal. Mas, nem todas as almas se relacionam assim com Ele, pois existem diferentes rasas – conjugal, parental, de amizade, serviçal e neutra.

Yashoda e Nanda Maharaja se relacionam com Krishna em humor parental. Mas, Ele não é apenas o filho deles, embora também não o deixe de ser. Da mesma forma, Ele não é apenas o Amante de qualquer uma de nós, mas não o deixa de ser. Sendo a Pessoa Suprema, Bhagavan, e também o Brahman impessoal, Ele é e não é ao mesmo tempo alguém com quem nos relacionamos. Assim como também somos e não somos diferentes dEle para sempre. É o Amor que reciprocamos que faz haver tal aparente distinção entre ser ou não ser.



[i] tvam isvaram svasrayam atma-mayaya

    vinirmitasesa-visesa-kalpanam

    kridartham adyatta-manusya-vigraham

    nato’smi dhuryam yadu-vrsni-satvatam

            Srimad-Bhagavatam 10.37.23

 

[ii] Kshatriyas são representantes da classe composta por governantes, administradores e guerreiros. No entanto, no período que abrange o aparecimento de Krishna no planeta, esta classe se caracteriza por uma ética perfeita. Ela em nada corresponde à classe dos governantes e militares da atualidade, cuja ética é em geral bastante questionável e cheia de imperfeições típicas do ego humano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Apresentação Geral

Madhurya é a vida se expressando como fluência amorosa, doce e linda. ...